South America

Grande Aiatolá Sistani alerta contra golpe dos EUA no Iraque

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8/11/2019, Moon of Alabama. Foto: eslam.de

Protestos no Líbano e no Iraque foram causados por problemas internos, mas são manipulados por forças externas. Hoje um líder iraquiano expôs as forças que podem bem pôr um fim àqueles problemas. O Líbano ainda terá de passar por mais dificuldades.

AFP traz notícias de novos protestos sangrentos no Iraque:

Protestos contra o governo no Iraque entraram na terceira semana com novos confrontos sangrentos na 6ª-feira, depois que líderes parecem ter cerrado fileira em torno do combalido primeiro-ministro do país.

Mais de uma dúzia de manifestantes morreram em Bagdá e na cidade portuária de Basra nas últimas 24 horas, segundo informam fontes médicas.

O/a repórter ouviu alguns manifestantes. Interessantes as vozes que ele/ela escolheu reproduzir:

“Ainda que nos custe até o último homem, temos de entrar na Zona Verde e derrubá-la” – gritou outro manifestante.

“Anunciaremos lá de dentro a revolução do nosso povo contra todos que nos roubaram – o primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi, Qais al-Khazaali, Hadi al-Ameri!” disse ele.

Khazaali e Ameri são altos comandantes da rede paramilitar Hashed al-Shaabi, que publicamente defendeu o governo depois que irromperam os protestos.

A rede paramilitar Hashed al-Shaabi foi fundada em 2014 para combater o grupo chamado ‘Estado Islâmico’ e resultou da fusão de vários grupos xiitas armados, muitos dos quais com laços estreitos com o Irã.

Há um mês escrevemos [traduzido aqui] que os legítimos protestos no Iraque e Líbano são usados pelos EUA para tentativas de golpe financiadas com dinheiro saudita. O alvo real das tentativas de golpe são os grupos que recebem apoio de Irã-Hizbullah no Líbano, e o grupo Hashed-al-Shaabi no Iraque. Por isso o artigo da AFP cita os que atacaram os líderes do Hashed, grupo fundado, treinado e equipado pelo Irã. Atualmente, já é frequente no jornalismo ‘ocidental’ mentir repetidas vezes que os protestos estariam acontecendo contra aquelas entidades.

Também alertamos que aqueles protestos poderiam escalar:

A melhor estratégia para os manifestantes legítimos é pressionar o atual governo para que promova reformas. Os governos no Iraque e no Líbano já concordaram, ambos, em promover algumas reformas. Os manifestantes devem aceitar as reformas e retroceder. Se os políticos não cumprirem o que prometeram, os manifestantes sempre poderão voltar às ruas e exigir mais.


Infelizmente há atores externos, cheios de dinheiro, que desejam impedir essa solução de conciliação. O objetivo desses atores externos é lançar os dois países um contra o outro, ou, mesmo, gerar duas guerras civis, porque esperam que, assim, conseguirão enfraquecer os grupos que mantêm boas relações com o Irã.

No Líbano, houve alguma violência cometida por seguidores do movimento Amal, xiita, contra um acampamento de manifestantes. A imprensa ‘ocidental’ atribuiu a violência, falsamente, ao Hizbullah. No Iraque, os guardas de um prédio do governo em Karbala atiraram contra manifestantes que tentavam derrubar os portões de entrada. Parte dos veículos de mídia ‘ocidentais’ rapidamente informaram, falsamente, que os atiradores seriam iranianos.

Mas essas apostas iniciais dos atores externos fracassaram e não levaram ao resultado desejado.

A linha final da matéria da AFP é realmente estranha:

Na 6ª-feira, a mais alta autoridade xiita do país, o Grande Grand Aiatolá Ali Sistani disse que não deveria haver “mais procrastinação” para encontrar um “mapa do caminho” para pôr fim à crise.

Sistani disse muito mais que isso (em árabe).

Exigiu que os políticos no poder traçassem um específico mapa do caminho de reformas para pôr fim à corrupção, para acabar com as quotas sectárias/políticas e que promovam a justiça social. Disse que o país estaria diante de uma ‘rara oportunidade’. E ordenou que os manifestantes legítimos e o governo mantivessem a paz e a ordem.

Na sequência, vinham as partes realmente importantes [aqui em tradução automática do árabe ao inglês, retraduzida ao português]:

Quarto: Há atores e partes internas e externas que desempenharam papéis proeminentes nas últimas décadas no Iraque. Esses atores e partes foram severamente agredidos e submetidos à opressão e ao abuso por iraquianos, e podem tentar hoje explorar os protestos em curso para alcançar alguns dos objetivos que ainda tenham. Todos os participantes de manifestações e protestos e outros devem manter máxima cautela contra a exploração por aqueles atores e partes, e evitar que haja falhas pelas quais eles consigam infiltrar-se nas reuniões e manifestações, para interferir e alterar o curso do movimento de reformas.

Os atores e partes externas aos quais Sistani faz referência são, claro, os EUA, que invadiram o Iraque; e os sauditas que financiaram o ‘Estado Islâmico’. É realmente extraordinário que Sistani aponte diretamente para todos esses.

A parte final da mensagem de Sistani é igualmente importante:

Quinto: Nosso orgulho nas forças armadas e os que se uniram a elas na luta contra o terrorismo do ISIS e defenderam o Iraque como um só povo, terra e valores, merecem grande crédito, especialmente os que estão hoje estacionados nas fronteiras e em outros locais sensíveis, não esquecemos suas virtudes, nem devemos esquecer. Que não ouçam qualquer palavra que destrate os graves sacrifícios que fizeram, porque, se hoje é possível realizar manifestações e atos pacíficos, bem longe do perigo dos terroristas, é graças a esses homens heroicos, que merecem todo o respeito e apreciação.

Sistani, que não é pró-Irã, está apoiando integralmente o grupo Hashed-al-Shaabi. Os atores externos que querem usar os protestos para derrubar o Hashed fracassarão.
 
Depois que EUA invadiram o Iraque, seu vice-rei Paul Bremer planejou instalar um governo ‘por procuração’, sem eleições. Quem impediu que acontecesse foi o Aiatolá Sistani, quando decretou publicamente que os EUA deixassem os iraquianos decidir por si mesmos. O Marja falou, os EUA tiveram de retroceder, e realizaram-se eleições. A fala de Sistani, hoje, tem peso e importância similares àquele decreto.

Elijah J. Magnier @ejmalrai – 13:13 UTC · Nov 8, 2019
Grande Aiatolá Sistani (via Sheikh Karbala’ei) alertou contra interferências internas/externas (países/atores) nos protestos. O mais importante:

Destaca o respeito às forças armadas e ao grupo Hashed-al-Shaabi: “Todos os que combateram contra o terrorismo e ainda estão na linha de frente.”

Raro e importante:

O Grande Aiatolá Sistani (via Sheikh Karbalaei) alertou explicitamente #Arábia Saudita e #EUA, responsáveis pelo que aconteceu ao Iraque (o ISIS e a destruição que veio com ele), para que não interfiram nos protestos e manifestações.

Mensagem excepcionalmente forte.

Conheço o Aiatolá Sistani há muitos anos. E posso garantir: nunca antes, em tempo algum, jamais, Sayyed Sistani foi tão claro e direto, mesmo sem dizer os nomes dos países envolvidos, ao acusar alguma intervenção estrangeira. 

A defesa que faz de Hashed-al-Shaabi põe fim a tudo que digam todos os analistas simplórios.

A fala de Sistani também provavelmente põe fim aos atores de protestos violentos. Os que continuem a atacar e vandalizar prédios do governo, passam agora a ser vistos como agentes de EUA e sauditas. Também passou a ser muito provável que a tentativa de golpe fracasse, e que o governo iraquiano sobreviva. Mas terá de implementar as reformas que os manifestantes genuínos estão exigindo.

É factível, porque o Iraque tem renda significativa e pode financiar as reformas.

No Líbano, a situação é muito mais difícil. Os senhores da guerra e os políticos sectários que tradicionalmente reinam no país e partilham o butim, não querem deixar as respectivas posições. Sempre há chance de outra guerra civil, e o país está praticamente falido. Serão necessárias negociações mais delicadas, ou mesmo alguma violência, para fazer acontecer alguma mudança.*******

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